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Conversas de corredor: Violência doméstica

Posted on quinta-feira, maio 21, 2015

Image from page 285 of "American homes and gardens" (1905)
Imagem disponível aqui
Faz um tempo já, considerando que sempre tento escrever o post e apenas algumas palavras são extraídas cada vez. Mas continua sendo algo que eu tenho vontade de contar, de publicar.
Antes de começar, tenho a obrigação de informar que este texto não pretende ser científico. Não há citação, não li diversos autores nem estudei ideologias ou filosofias para escrevê-lo. Portanto, ele tem um conteúdo muito mais de relato de alguém que passou por algumas situações inusitadas para si, mas muito comuns de se ver no dia-a-dia forense. Contém, assim, uma perspectiva, apenas.
No dia 18 de março, fui a um Fórum na região metropolitana de Porto Alegre, para acompanhar uma audiência na Vara Criminal que cuida dos casos de violência doméstica. Repare: há uma vara específica para tratar questões deste tipo - o que significa que há um volume enorme de processos desse gênero por lá.
A intenção era acompanhar uma audiência em que seria julgado o sujeito que estuprou a própria filha. Tive a oportunidade de ler o boletim de ocorrência lavrado na data da prisão dele - e foi impossível conter o nojo. A moça veio de um local distante para conhecê-lo e foi recebida com uma casa de abertura única, que ficava trancada com ela dentro - ela teve o contato com os demais familiares cortado e foi abusada diversas vezes, repito, pelo próprio pai (que encontrou via internet, mas não vou nem entrar no mérito dos perigos de encontrar pessoas via mundo virtual). Engravidou do próprio pai! Diversas outras coisas estão envolvidas na história, mas o ponto não é esse e me sinto mal expondo essa situação, mesmo que sem identificar absolutamente ninguém.
Por fim, não pude assistir essa audiência. Ela não aconteceu. Motivo: a SUSEPE (responsável pelo transporte dos presos) não conseguiu trazer esse "pai" para a audiência em tempo. Também não vou entrar nesse mérito.
Porém, até saber que não haveria audiência, passei boas três horas sentada no corredor. Você já esteve no corredor de um Fórum, sobretudo no ambiente das varas criminais? Eu nunca havia estado.
Há um clima muito estranho por lá. Vítimas e suspeitos/acusados/criminosos/pessoas envolvidas no processo criminal estão basicamente no mesmo local. Vários presos chegam algemados e escoltados por senhores que portam armas volumosas e assustadoras. O olhar na face daqueles que vêm acompanhados é indescritível.
Eis que ouvi muitas coisas naquele corredor. De algumas conversas eu participei, outras, apenas ouvi, recolhida em minha insignificância.
Uma mulher (a vítima) que estava em audiência assim que cheguei saiu da sala, ao final da sessão, chorando. Seu ex-companheiro havia sido condenado. "Ainda bem que agora esse desgraçado fica preso! Por mim podia morrer na cadeia. Da última vez que ele me bateu ele quase me matou." Ela ainda tinha marcas. A mulher que acompanhava ela (a mãe, acredito) completava suas frases, confortava e comemorava essa "vitória".
Outra mulher, que estava sentada ao meu lado durante boa parte da tarde, puxou assunto comigo. "Vamos ver se vai sair a minha audiência. Não aguento mais esperar" e pediu que eu cuidasse se a chamavam - pois ela ia fumar um cigarro (ok, ela estava nervosa). Quando voltou, ela disse que queria que essa audiência terminasse logo. Foi casada 19 anos, separou-se e encontrou um cara novo. Namorou com ele por um tempo e ele começou a bater nela. "E o meu marido anterior era um amor... Só não deu mais certo, com esse que é o pai da minha filha. Aí fui achar sarna pra me coçar. Esse cara bateu em mim e da última vez só não me matou porque, não sei como, meu gato pulou nele e fez ele parar. Se não ele tinha me matado".
Eu ficava abobada com os casos que ia ouvindo. Sabe quando você não tem resposta? Eu me sentia assim. Nada que eu quisesse dizer ia poder consolar aquelas mulheres tão feridas, não só em corpo, mas também em alma. Mais abobada eu fiquei quando ouvi a conversa do segurança do corredor.
Um sujeito (que acredito ser um réu que estava ali para estar em audiência) puxou conversa com esse segurança (que não sei se é bem um segurança). O que diziam? "Bah, essa maria da penha... Hoje em dia tu encosta em alguém e já é motivo pra ir pra cadeia. Em vez de irem pegar bandido mesmo...".
Eu poderia escrever uma tese sobre isso. Sobre essa frase, pronunciada no local mais impróprio, com a mentalidade mais miúda. Qual será que é a definição de "bandido mesmo"? Será que apenas quando toca o patrimônio de homens brancos de classe média/alta o negócio deve ser punido com correções severas?
Aí eu poderia discorrer muito mais sobre a hipocrisia que percorre os discursos que rodeiam a sociedade atual - por meio do Direito, da mídia, das conversas de bar e o que você quiser imaginar. Mas deixo que você pense e, talvez, me fale o que acha disso tudo. O que me chamou a atenção foi esse ambiente, essas conversas e essas histórias.

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Dispositivos Vestíveis

Posted on terça-feira, abril 28, 2015

   Os wearable devices são um tema relativamente novo que levantam diversas questões éticas e práticas.

Já temos exemplos à venda e podemos facilmente ver como esses dispositivos levantam questões éticas, de modo que convido vossas atenções para que prestem atenção nesse tema.

Ainda não elaborei muito a ideia, por isso só chamo a atenção (e por isso escrevo aqui).

Nós temos a responsabilidade de influenciar as decisões que são feitas a respeito do assunto para que a sociedade escolha um caminho saudável de uso da tecnologia, não deixando que percamos ainda mais nossa privacidade e nosso poder de decisão, enfatizando a liberdade do indivíduo.

Afinal, não queremos viver num 1984 high-tech.


Há Braços.

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Consciência

Posted on segunda-feira, abril 27, 2015

Por mais que eu abra os olhos
Por mais luzes que eu use,
Não consigo ver
Meu ferimento na cabeça.

Por mais que eu lute
Por mais esforço que eu faça
Não vejo mais que meio arco
Não sinto o sangue a correr solto.

Se levo um tapa na cara
Se outro golpe me fere
Sinto muito, mas vejo
O que oculto me estava.

O sangue que agora contemplo
e que em meu corpo estava
Me afasta do corpo, meu templo
e da consciência que me restava.

 ********Fim*******

Peço-lhes que façam o que eu esperaria de meu leitor, que faço às vezes:
  •  Que leiam e sintam (preste atenção no sentimento específico que o ato de compreender as palavras lhe causou),
  •  pense sobre o que o texto fala ("o que isso está literalmente dizendo?"),
  •  pense sobre o que o texto quer falar ("o que o autor quis dizer?"),
  •  pense sobre o que o texto poderia estar falando (algo como "o que está escondido nessas palavras").

Só como uma espécie de exercício despretensioso (mas se eu recebesse algum retorno das reflexões ficaria alegríssimo), pensei em escrever abaixo a visão do autor (o que o autor literalmente está dizendo e o que ele quis dizer escondido nas palavras) mas acho interessante* deixar para outro post, depois de um tempo e desse retorno aí =D

* Também porque estou meio com preguiça mesmo.


Há braços.

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Eu Reconheço que sou Grosso

Posted on quarta-feira, abril 15, 2015

"Mas sei tratar a qualquer cidadão... Até representa que eu tenho cultura."
https://www.youtube.com/watch?v=nIVgLvoh5JM


Eu queria falar sobre a objetividade, as figuras de linguagem e a sinceridade na expressão - que às vezes fazem a pessoa parecer menos polida, apesar de certo discurso ser baseado na sinceridade e objetividade. 
Recomendando o ensaio do Orwell:

http://www.orwell.ru/library/essays/prevention/english/e_plit

Daí depois eu venho e escrevo então =D

Há braços.

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Tempo

Posted on quinta-feira, março 26, 2015

Muitas coisas acontecendo. Rotina esmagadora. Acorda, trabalha, trabalha, trabalha, trabalha, morre. Sem identidade, sem tempo, sem. Fica frio, fica quente, fica frio, fica doente. 
Pensa na vida, vive sem pensar, morre sem vida. Revive. Esperança de alcançar, novamente, o que ama.
Se era boa, não se sabe. Se via má, ruim e incapaz. Há de se tornar tudo que pensa. Tempo, tempo, tempo, tirou tudo que a fazia minimamente boa.

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Recomendação de música - Radium Valley

Posted on quinta-feira, março 19, 2015

Apenas para deixar, de alguma forma, registrado preciso dizer, antes de iniciar o post, que estou com outro tema fresco na memória para escrever. Sobre violência contra a mulher e a sociedade machista... Mas como a história é longa e eu estou com pouquíssimo tempo nos últimos dias, vou empurrando.

Agora, falando do que eu vim aqui falar!

Desde sempre (ou melhor, desde que recebi o acesso ao maravilhoso mundo da internet - só no fim de semana, depois das 14h de sábado, bloqueando o telefone da casa - com o que era conhecido por internet discada e, parênteses do parênteses, galerinha de hoje em dia não deve fazer ideia do que é), busquei por bandas e músicas novas e, diga-se de passagem, fora do comum.
Existem algumas bandas que fico surpresa quando encontro mais pessoas no Brasil (e esse país é grande!) que gostam. É o exemplo do The Birthday Massacre (que fez show lindo aqui, já contei? Papo pra outro post), do Astrobastard, e muitos outros. Outras, estão apenas fora da mídia comercial padrão das rádios aqui do Sul... Como o Korn, o Tool, Stone Sour, por exemplo. 

Tudo isso só para dizer uma coisa: descobri mais uma banda legal! E eu acho que vale a pena indicar os caras. É uma banda (aparentemente) francesa, de rock/metal-gótico (com pegadas de o que você quiser adicionar aqui). É, não sou muito boa com rótulos. 
O CD deles é bom. Mistura os elementos que fazer a música ser especial, diferente. Tem pegadas apocalípticas, e chegam a dar medo - com sons que lembram algum problema com radiação, com contaminação, com desgraça e total perdição do ser humano.
Bia, pára de enrolar! 
Ok. A banda é a Radium Valley. Acho aue vale muito a pena ouvir o álbum, chamado "Tales from the apocalypse". Tem uma análise do álbum que achei sensacional nesse link (https://ringmasterreviewintroduces.wordpress.com/2014/09/25/radium-valley-tales-from-the-apocalypse/), para quem lê em inglês e manja dos rótulos e curte critica etc. etc.

Era isso, galerinha batuta. 
;)

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Você Concorda Com Esse Post

Posted on segunda-feira, março 16, 2015

Aqui tem uma informação claramente falsa que está de acordo com o que você pensa. Você, então, talvez por concordar, toma como verdade. Aceita. Reafirma sua crença falsa e infundada. Concorda com a imagem exibida: 


Encontrei essa coruja voando ontem à noite perto de casa e bati essa foto. Ficou com esse monte de pontinho porque a câmera estava com ISO muito alto.



















Por mais absurdo que seja, você tem um profundo sentimento de que estou falando a verdade. Afinal você compartilha de minha opinião.
-- "Eu compartilho dessa opinião. Vou mostrar pros outros como estou certo."
Compartilha, a seguir, no Facebook essa informação. Recheada de segundas intenções e enganação, falsidades, mentiras.

Ao exporem opiniões contrárias você fecha seus olhos e acrescenta outro tijolinho no seu muro de ignorância que vem construindo há muitos meses. Eu pergunto o seguinte:

Quem forneceu o material pra esse muro? De que ele é feito? Esse muro te protege bem?

(Isso é crônica?)

Há Braços.

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Leitura Recomendada: 1984, George Orwell

Posted on terça-feira, março 10, 2015

Este texto estará confuso, mas é um convite. Leia até o fim.

Venho aproveitar que, pela primeira vez, eu e a Bia estamos lendo simultaneamente o mesmo livro, para convidar você, leitor, a ler conosco esse grande clássico da literatura mundial.





>                                                                         O livro foi escrito em 1949 (não em 1984, afinal é um livro "futurista") e trata de uma distopia (distopia é uma espécie de utopia ao contrário - uma realidade indesejável e/ou assustadora, etc) em que há um forte controle sobre a população. Enfim, se quiser uma sinopse boa, vá procurar - afinal, duvido muito que esteja lendo isso offline (escrevo em 2015 em uma plataforma na internet - e chamamos de online se você está conectado na internet. Caso eu esteja escrevendo para o futuro).


Por que ler o livro? Enfim, eu não posso falar muito porque eu ainda não li, mas tenho certeza que é um livro que vale muito a pena. Se fores ler, avise, comente etc. Estamos lendo em passos lentos, então comece e não se apresse. Avise-nos, se quiser, e marcamos uma discussão do livro - ou não.

Enfim, esse "desafio literário" é pra VOCÊ.


(Esse tom de Reversal Russa na última frase considero minha pérola textual. Permita-me elogiar-me modestamente. Tive que comentar com medo do leitor não perceber. Preciso de feedback, eu acho, porque tem vários desses detalhes que fico afim de colocar, não sei se serei compreendido. Pode ser que eu coloque e nunca disse nada. Será que essas elucubrações em off - na real só entre parênteses - ficaram legais? hahaha Ah, se você não percebeu, o nome do livro está no título do post.)

Há Braços.

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Percepções sobre morar fora #1

Posted on quarta-feira, março 04, 2015

Moro, há 13 meses, fora de casa.
Antes de mais nada, preciso deixar claro que esse post não tem uma finalidade muito definida. A princípio, vai apenas me auxiliar a perceber o que penso sobre o tempo que tenho passado longe da minha cidade, da minha família, de tudo que amo.
Parece que foi ontem que visitei o pensionato de freiras onde moro atualmente. Mas não foi. Foi ainda durante as férias de verão, com pressa e cheiro de motor de ônibus, suor e ansiedade. Uma casa simples, mas com um quarto só pra mim, e quatro irmãs (com hábito e tudo) que comandam o local, onde habitam mais de 15 meninas por semestre - frequentemente mudando. Banheiros compartilhados, cada uma por sua comida e sua limpeza. Mesmo assim, um lugar acolhedor e limpo pra passar o semestre.
Antes, gastava mais ou menos três horas por dia viajando de micro-ônibus, de casa para a universidade, e de lá para casa. Gastava muito mais do que gasto atualmente. Perdia tempo. Perdia sono. E perdia muita, muita paciência.
Agora, mais de um ano, ainda não sei o que pensar. Certamente eu sinto muita saudade de tudo que me pertencia antes, tudo que fazia parte da minha rotina. Mas aprendi muitas coisas novas: a rotina de fazer comida (ou passar fome) e ter de lavar toda a louça (que descobri não sumir, por mágica de mãe, da pia); ter mais paciência com os outros - e pensar, contra todos os impulsos, que a menina ao lado não vai tomar banho quando você queria ir só por sacanagem: ela também tem pouco tempo; perceber a bagunça do quarto quando ele fica inabitável (e, mais uma vez, a mágica de mãe não acontece)...
Com essas coisas que eu relatei parece que nunca fiz nada da vida. Mas não se trata disso! O fato é que ter a obrigação de fazer tudo isso, de ser a única pessoa responsável por si.... Isso é novo!
Ficar doente fora de casa, posso dizer, é a pior coisa. Talvez só perca para o fato de que sua família, lá longe, também fica doente de vez em quando - e aí você morre de preocupação e não pode fazer nada.
Interessante fazer a observação de que esse post começou a ser escrito há 9 meses, quando eu estava fora há apenas 4 meses. Por isso ele ficou parado: eu ainda não tinha percepções claras sobre o que é morar fora. A saudade dos livros, dos instrumentos musicais, do conforto e, principalmente, da família cegava e fazia pensar que doía mais do que de fato dói.
A intenção é escrever mais sobre isso. Talvez você esteja na mesma situação que eu, talvez tenha uma história para contar (pode comentar aqui, se quiser!). Talvez eu só esteja colocando emoções em palavras... Seja o que for, haverá mais.